Tive a oportunidade de frequentar uma ação de formação que me deu a conhecer uma metodologia/filosofia de desenho de projetos que vai para além dos projetos em si.
Origem do Dragon Dreaming
Esta metodologia, desenvolvida por John Croft e Vivienne Elanta, bem como por membros da Gaia Foundation of Western Australia, chama-se Dragon Dreaming e, tem a capacidade de incorporar e utilizar diferentes ferramentas e métodos que ajudam a criar, planear e executar um projeto (seja ele empresarial, comunitário ou pessoal).
Bases englobam várias áreas
O Dragon Dreaming engloba diferentes áreas do saber, que vão desde elementos culturais aborígenes, teoria de sistemas vivos, teoria do caos, física quântica, gestão de projetos, etc.
O Dragon Dreaming tem várias premissas que devemos ter em conta, tais como:
- Comunicação inclusiva – todas as pessoas e opiniões são válidas e devem ser partilhadas;
- Escuta ativa – escuta evitando o julgamento do outro;
- Mudar de uma cultura ganha-perde para uma cultura ganha-ganha;
- Utilizar Perguntas geradoras ou poderosas para fazer sair da zona de conforto;
- A importância de parar e “ouvir” o coração.
O Dragon Dreaming tem 4 etapas que são: Sonhar, Planear, Realizar e Celebrar.
Em consiste na prática
O primeiro exercício é convidar todas as pessoas a Sonhar, pois sonhar é fazer parte da criação.
É aqui que o projeto começa a ganhar forma e o desafio consiste em:
- Ter um sonho (muitas pessoas pensam que já não sonham);
- Partilhar esse sonho com os demais, sem receios;
- Construir um sonho maior com as pessoas, equipa que partilhou o sonho (para isso é preciso deixar que o seu sonho pessoal possa ser transformado e melhorado. Nem sempre o sonho individual é igual ao sonho da equipa). Este é o primeiro grande teste ao individuo e à equipa.
Só depois de termos sonhado em conjunto e estarmos todos envolvidos por um sonho comum é que passamos para a fase do Planear. Aqui vamos, em conjunto, considerar alternativas, desenhar estratégias e testar protótipos da ideia (e assim recolher feedback para garantir que o caminho a seguir está certo).
Posteriormente, entramos na fase do Fazer, que é a implementação do projeto, a gestão administrativa, a distribuição das tarefas, responsabilidades e orçamentos. É passar à ação e monitorizar o progresso da implementação do que foi sonhado.
Por último, temos a fase do Celebrar que deve ter o mesmo peso que as outras fases. É com esta etapa que podemos “avaliar” os progressos, as aprendizagens, a aquisição de novas competências e as pequenas vitórias.
Segundo as caraterísticas pessoais
Para estas 4 etapas no Dragon Dreaming também temos de ter em conta as caraterísticas pessoais de cada individuo envolvido (nem todos temos os mesmos dons) e por isso afirma que num projeto devemos ter 4 perfis envolvidos, que são:
- Os sonhadores – mais intuitivos, com elevada motivação para criar;
- Os planeadores – são mais julgadores e por isso mais ligados ao teórico, a procurar desenhar estratégias e a considerar alternativas;
- Os fazedores – estão no campo do sentir por isso implementam gerem, monitorizam os progressos do projeto;
- Os celebrantes – caraterizados por terem um olhar para o que já se conseguiu alcançar e procurar mostrar a toda a equipa os ganhos conseguidos (mesmo que possam ser pequenos). Estão atentos aos progressos e ao envolvimento de todos.
Planeamento
É no decorrer do planeamento, onde se vai construir as tarefas a realizar e os objetivos a alcançar (aqui defende-se que primeiro devemos definir tarefas e depois os objetivos – diferente do que que naturalmente estamos habituados a fazer) que são atribuídas responsabilidades e neste momento é importante termos em atenção o perfil de cada pessoa envolvida.
Mas chega de descrever o processo e se me permitem vamos para o sentir e para aquilo que no Dragon Dreaming se chama momentos “Aha”!
Sonhar em conjunto para organizações
O primeiro momento foi sonhar em conjunto, onde todos sonhamos e todos podemos construir um sonho em conjunto. É um desafio em que muitas vezes não queremos largar o nosso sonho e apegamo-nos às nossas ideias.
A verdade é que, se nas organizações tivermos um sonho comum iremos conseguir caminhar com mais vigor para o resultado pretendido, para isso é preciso saber partilhar o sonho pessoal e aceitar que outras pessoas possam ter sonhos complementares. Só depois de todos perceberem os sonhos da equipa é que se pode construir o propósito/missão dessa equipa.
O segundo foi perceber que a fase celebrar é tão importante como as restantes e que é preciso ter uma equipa dedicada a esta fase. Na minha vida profissional tenho assistido a muitos projetos em que a celebração, ou não existe ou é feita num momento final do projeto. A realidade é que as mudanças acontecem e devem ser celebradas (pequenas vitórias levam à vitória final). E é a forma de ancorar as mudanças que se querem em toda a equipa.
O terceiro é que, em todo o processo parte-se sempre do princípio da inclusão de todos e todas as ideias e para isso é preciso fomentar uma cultura onde as pessoas sintam confiança e segurança para mostrar o que são e o que pensam. Neste aspeto, no mundo empresarial nem sempre se consegue e muitas vezes com perdas para todos os envolvidos (colaboradores, chefias e empresa).
Por último, e ao contrário do que é normal, é cada pessoa que escolhe em que tarefas quer estar e contribuir para o sucesso do projeto (isto é, da realização do sonho) e este momento é um excelente termómetro para perceber se, o que foi sonhado por todos é de facto de todos.
Termino com uma frase que me acompanha há alguns anos resume o que procurei passar: